“Muitos contratos não serão honrados e a gente corre
risco de interrupção de serviços essenciais. Com esse orçamento de 2021,
admitindo que ele seja liberado integralmente, a nossa projeção é que as
universidades conseguem sobreviver, no máximo, até setembro. É uma situação
mais ou menos generalizada entre todas as instituições”, afirmou Edward Madureira
Brasil, reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e presidente da Andifes,
em conversa com o Brasil de Fato. Ao todo, a rede federal de ensino possui 69
universidades federais, que reúnem 1,3 milhão de estudantes.
Uma parte desse recurso de R$ 4,3 bi, no valor de R$
789 milhões, está bloqueada aguardando liberação por parte do governo. Há cerca
de 10 dias, o ministro Pauo Guedes (Economia) foi cobrado por parlamentares
durante uma audiência pública na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados e
prometeu que iria descontigenciar R$ 1 bilhão para o Ministério da Educação (MEC),
mas a medida ainda não foi efetivada. Mesmo liberando toda a verba prevista
para o ano, ainda não seria suficiente.
“O orçamento precisa ser recomposto no mínimo ao
patamar que nós tivemos em 2019, porque o do ano passado já foi mais defasado”,
diz Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Procurado pela reportagem, o MEC reconheceu a
“situação de redução dos recursos discricionários da pasta para 2021, em
relação à LOA [Lei Orçamentária Anual] 2020, e consequente redução orçamentária
dos recursos discricionários da Rede Federal de Ensino Superior, de forma
linear, na ordem de 16,5%”. Sem apontar perspectivas de recomposição
orçamentária, a pasta afirmou ainda que “não tem medido esforços nas tentativas
de recomposição e/ou mitigação das reduções orçamentárias das IFES
[Instituições Federais de Ensino Superior]”.
Estudantes prejudicados
Além de um eventual apagão no funcionamento das
universidades, com cortes no fornecimento de água, energia e outros insumos,
por falta de verbas, a situação orçamentária atual é mais dramática para os
estudantes que dependem de programas de assistência para permanecerem
estudando. Em todo o país, milhares de estudantes estão tendo as bolsas
permanência cortadas. Esses auxílios fazem parte do Plano Nacional de Assistência
Estudantil (Pnaes).
Na Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, o
orçamento deste ano teve um corte de 100% nos investimentos e 4,6% nos recursos discricionários. O recursos atuais
estão em patamares de quatro anos atrás, mas com o custo de vida muito mais
encarecido. Reflexo disso, em abril foram cortadas cerca de 150 bolsas. O
benefício, recebido por estudantes de famílias de baixa renda, é crucial para
mantê-los estudando.
“Com os cortes orçamentários, a universidade é levada
a restringir a política, a criar obstáculos para a concessão e a renovação das
bolsas”, afirma Gabrielly Araújo, estudante do 7º período do curso de Serviço
Social da UnB, uma das estudantes afetadas pelo corte. Aluna de baixa renda, moradora
de Planaltina, região periférica do Distrito Federal, Gabrielly recebia R$ 465
de Bolsa Permanência. Somada à um outra bolsa de iniciação científica, esta era
a única renda da sua família.
“Moro com minha mãe, um tio que é pessoa com
deficiência e dois irmãos. A única renda fixa que tínhamos eram as bolsas. Esse
corte piorou muito nossa situação econômica”, relata.
“O orçamento que a gente tem para 2021 na UnB é o
equivalente ao de 2017, segundo a própria reitoria, mas as demandas aumentaram
bastante, principalmente com a pandemia”, explica Adda Luísa,
coordenadora-geral do Diretório Central dos Estudantes da universidade
(DCE-UnB).
Há pouco mais de um mês, em artigo publicado no
jornal O Globo, a
reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de
Carvalho, apontou que a instituição corre risco de fechar as portas por
dificuldades financeiras.
“A UFRJ fechará suas portas por incapacidade de
pagamento de contas de segurança, limpeza, eletricidade e água. O governo optou
pelos cortes, e não pela preservação dessas instituições”, denunciou.
Fonte: https://www.geledes.org.br/universidades-federais-so-tem-recursos-garantidos-para-cerca-de-3-meses-funcionando/.
Acesso em 18/06/2021.
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