Flagrantes paisagísticos do Recôncavo baiano

Por: Jânio Roque Barros de Castro.

Vista panorâmica de Cachoeira (a sua direita) e São Félix (a esquerda), duas belas cidades históricas do Recôncavo baiano, entremeadas pelo Rio Paraguaçu, que é o curso d’água estruturante de uma importante bacia hidrográfica do estado da Bahia. Do ponto de vista físico-espacial tratam-se de cidades gêmeas, separadas por uma ponte de menos de 400 metros de extensão, que se assemelham sob o prima da história sociocultural. Sob a ótica da dinâmica funcional, tratam-se de cidades conurbadas do ponto de vista da articulação de serviços diversos, atividades comerciais e circularidade de diferentes sujeitos sociais. 
O rio Paraguaçu nasce na Chapada Diamantina e atravessa uma área de caatinga na qual a relativa planura é quebrada com a presença destoante dos inselbergues (morros de pedras) e de lá segue para o Recôncavo baiano, onde o clima é predominantemente tropical sub-úmido com uma estação chuvosa e outra seca (atente-se para não confundir com tropical semi-úmido das áreas do cerrado do Brasil central, que apresentam uma estação seca no inverno e chuvas concentradas no verão). Nessa área onde estão situadas as duas cidades, o relevo apresenta feições arredondadas. 
Depois desse trecho da foto, o rio vai em direção a Baía de Iguape e de lá desemboca na Baía de Todos os Santos, adentrando ambientes com vegetação pré-litorânea e litorânea, a exemplo de resquícios da mata atlântica. Com as comportas da barragem de Pedra do Cavalo abertas, amplia-se a capacidade de transporte do rio em uma área que sofreu impactos devido a o barramento, uma vez que a barragem diminui a força do rio o que contribui para o aumento dos efeitos da maré, que saliniza biomas cuja dinâmica era tipicamente fluviomarítima; ou seja, o barramento promove um desequilíbrio ambiental. Apesar dos impactos citados, as barragens para produção de energia hidrelétrica são bem melhores do ponto de vista ambiental quando comparadas com fontes altamente poluidoras, como as termelétricas. 
Lamenta-se a desativação da navegação fluviomarítima nesse trecho do baixo curso do rio Paraguaçu, no início da década de 1970. Cachoeira e São Félix são duas cidades reconhecidas nacionalmente pela força e fulgor do seu patrimônio cultural material (conjunto arquitetônico) e imaterial (manifestações culturais e festivas diversas).

Jânio Roque Barros de Castro:
Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, Campus V - Santo Antônio de Jesus. Vice-líder do Grupo de Pesquisa "Recôncavo: território, cultura, memória e ambiente".
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