Estudante de História da UFRB, apresenta TCC sobre Rezadeiras das comunidades de Tabuleiro da Baiana, Carro Quebrado, Pernambuco e Posto Santa (Muritiba)

 

Ontem (30/07/2024), a estudante MIRIAN FLORES DE JESUS DA SILVA, do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), apresentou na cidade de Cachoeira o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), com o título: Com dois te botaram, com três eu te tiro, com os poderes de deus e da virgem maria”: crenças e devoções na zona rural de Muritiba- Bahia (1970-2000), sendo a orientadora a professora Dra. Tânia Maria Pinto de Santana (UFRB) e a banca examinadora formada pelo Dr.  Fabrício Lyrio Santos(UFRB) e a professora Dr. Alaíze dos Santos Conceição (rede estadual de ensino).

O mencionado TCC, têm como objetivo Analisar as práticas de crenças e devoções realizadas na zona rural de Muritiba entre os anos de 1970 a 2000, levando em consideração as vivências de algumas pessoas praticantes da benzeção e das rezas, bem como observar como o catolicismo popular aparece na vida dessas pessoas, através da devoção e culto ao santos. Para tanto, foi utilizada a concepção metodologia da entrevista, quando foram entrevistadas seis rezadeiras e um rezador, tendo como aporte teórico os estudos de pesquisadores(as) como: Elen Cristina Dias de Moura, Alaize dos Santos Conceição, Denilson Lessa dos Santos, Alberto M. Quintana, Elivaldo Souza de Jesus, dentre outros.

O texto em forma de artigo foi dividido nos seguintes tópicos: introdução, contextualização geográfica, catolicismo popular no Brasil: da colônia a contemporaneidade, visão cósmica e cristã nas práticas de benzeção, crenças e devoções nas Comunidades de Tabuleiro da Baiana, Carro Quebrado, Pernambuco e Posto Sanca, as rezadeiras e a devoção aos santos e considerações finais.

Segundo a pesquisadora, o TCC foi inspirado na vivência com sua avó – Benedita Quedes Flores, que era rezadeira na localidade de Carro Quebrado. “Assim tornar visível as práticas dessas mulheres em uma perspectiva historiográfica, configura-se como algo relevante na minha trajetória como estudante de História, ou seja, procurar dar voz àquelas que considero “excluídas da história”, a exemplo de minha inesquecível avó, que foi a principal inspiração para produção dessa narrativa”.

Nas considerações finais, a autora do aludido TCC, evidencia a importância da realização de pesquisas com essas temáticas no campo historiográfico: “tornar visível os saberes das rezadeiras das comunidades de Carro Quebrado, Tabuleiro da Baiana, Pernambuco e Posto Sanca, se configura como uma importante e necessária missão para nós historiadores, enfatizado a construção de um tipo de história visto de baixo, em que os sujeitos são pessoas do povo, muitas vezes “excluídas da história”. Evidente, que ainda se têm muito a pesquisar acerca da pratica das rezadeiras, mas narrativas com essas são fundamentais para “dar voz” a esses sujeitos históricos com trajetórias de vidas tão significativas”.

“Parabenizo a Mirian Flores pela defesa do seu TCC, uma qualificada narrativa acerca de um tema tão relevante, ou seja, as práticas das rezadeiras, um ofício que ainda se mantém vivo em muitas localidades do Brasil, mesmo com as mudanças tecnológicas atuais. De qual forma, parabenizo a sua orientadora, professora Tânia Maria Pinto pela orientação ao TCC e a banca examinadora pelos argumentos apresentado na citada defesa”, salientou o professor Borges.

A seguir constam alguns depoimentos de algumas rezadeiras presentes no texto do mencionado TCC.

“Eu rezo é com folha, pedra é para rezar quem dismente pé e agua é pra rezar cobrero, impinjo e sartador é esse fogo salvai [...], e o cobrero, impinjo e fogo salvai, bota um pouquinho de cinza, bota um pouquinho de sal e a agua e reza. [...]. E para olhado eu rezo com pinhão, com essa bassorina [...]. Pra rezar do vento chá de Maria [...]”. (MOREIRA, Edelzuita Damasceno, 2020).

“A do cobreiro eu achei num caderninho do meu avô [...] a do impinge meu pai passou pra mim [...], e a de dor de cabeça foi dona Elvira que me ensinou eu copiei um pouquinho, a do olhado foi tia Jininha e ai as outras você vai aprendendo alguém vai indicando a gente vai pegando escrevendo, a de engasgo foi dona Lora [...] o que eu mais rezo mesmo é a do olhado e ar do vento” (SANTOS, Cristina Silva Oliveira dos, 2022).

“Com dois te botaro, com três eu te tiro, com os puder de Deus e da virgem Maria. Foi de feia, foi de magra, foi de gorda, foi no cume, no bebe, na esperteza, na buniteza eu tiro esse olhado, esse quebranto, com os puder de Deus e da virgem Maria de fulana com má zoi te olharo com bom zoi eu tiro esse quebranto essa mufina, com os puder de Deus e da virgem Maria. Depois rezar um pai nosso uma ave Maria e santa Maria, e ao final falar nossa senhora que ponha a virtude. Reza com três ramos (galhos) de vassourinha doce, pinhão roxo e depois jogar o ramo na direção que o sol se escravar” (FLORES, Benedita Guedes, 2020).

Meu santo mermo é São Cosme, São Damião, por que eu tive gêmeos, só no faço rezar, mas sempre dia 27 eu dou os quemado os menino eu junto sete minino. [...]. Quem rezava tudo era mainha, mainha que rezava pra São Cosme, Santo Antonio, Santa Barbara, mainha rezava também todo ano tinha a procissão de São Roque, todo ano ela fazia aqui pra João Ribero, depois que ela morreu, ela tem oito ano de morta,[...]”. (ROCHA, Jacinta Dias da, 2022).

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