A
atividade teve início com a sessão de fotos com o senhor Vadu, que no dia 21/06, completou 104 anos de vida. Em seguida, a
professora e filha do senhor Vadu,
Maria Angélica Rezende, explicou como surgiu a ideia do livro e agradeceu a
presença de todos e todas, depois foi interpretado de forma instrumental o Hino
Nacional com os filhos de senhor Vadu,
Aderbal (bandolim) e Manoel (bateria), além do neto Admário (teclado).
Continuando, o professor Borges explanou acerca da organização e estrutura do
livro, depois foram realizadas outras homenagens a senhor Valdomiro Rezende: poemas – sobrinha Vanessa Rezende e a neta Luize
Rezende, além da entrega de troféu pelo filho Aderbal. Por último, aconteceu a
sessão de autógrafos.
Vale
salientar, que a publicação do livro foi custeada na sua maior parte pelos 7 filhos
do senhor Vadu, com apoio de
Domingas da Paixão, deputado Jorge Solla e do professor Borges, sendo que cada
pessoa presente no evento recebeu o exemplar do livro gratuitamente.
O livro se fundamenta nas memórias do senhor Vadu, sendo as fontes: entrevistas concedidas pelo próprio Valdomiro Rezende ao professor Borges, fotografias e documentos pessoais, além da valiosa colaboração de sua filha, Maria Angélica Rezende, a qual também elaborou a apresentação do livro. A narrativa foi organizada nos seguintes tópicos: apresentação, introdução, as origens e a família, a escola, atividades profissionais, festas e outras diversões, a Vila de Cabeças: o comércio e outras histórias, o povoado de Geolândia (Jordão): a feira e outras histórias, a localidade de Quixabeira, a Usina Hidrelétrica de Bananeiras e as considerações finais. Ressaltando que o texto da orelha do livro foi elaborado pela historiadora Aaize dos Santos Conceição.
Quanto ao título do livro: “Não tinha um martelo como o meu”: memórias do Senhor Valdomiro de Souza Rezende (Vadu), justifica-se pela conotação que o depoente fez a sua prática de carpinteiro e marceneiro, algo considerado de extrema relevância para sua vida, simbolizado através da ferramenta do martelo. No campo historiográfico, a narrativa pode ser associado aos estudos desenvolvidos pela História Social, bem como das concepções da História Local e Regional e a História Oral, sobretudo na perspectiva histórica do Recôncavo Baiano, especialmente nos município de Muritiba, Governador Mangabeira e Cabaceiras do Paraguaçu.
“Agradecemos a presença de todos e
todas que contribuíram para a realização desse grande sonho, transformar as
memórias do senhor Vadu em um livro,
um senhor de 104 anos, com muita vitalidade e prazer pela vida. Também,
agradecemos as pessoas que compareceram ao evento de lançamento do livro, sem
dúvidas algo para ficar marcado na história do município de Governador
Mangabeira. Evidentemente, que não podemos esquecer de parabenizar senhor Vadu pelos seus 104 anos, bem como agradecer
pelas seus valiosos depoimentos que configuraram a estrutura do livro Muito
obrigado”, salientaram o professor Borges e a professora Maria Angélica.
TRECHOS
DO LIVRO COM DEPOIMENTOS DO SENHOR VADU
Capítulo
- Origens e família
“Quando
eu procurei ela para a gente se gostar, ela tinha 14 anos, nesse mesmo tempo
foi que me chamaram para ir para o Sertão, ai eu caminhei, elas passaram para a
Igreja rezar, o terço de Santo Antônio, ai eu cheguei e acompanhei. No Jordão
não tinha energia naquele tempo, tinha um lampião na frente da Igreja, quando
cheguei perto da claridade dei um sinal para elas duas, as duas irmãs, ai ela
veio também, decidida para ver o que eu queria, ai ela olhou para a irmã, ficou
parada olhando para mim, depois disse que aceitava, daí em diante eu comecei a
namorar (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022)”.
P. 13
Capítulo - A escola
“Toda
escola tinha à palmatória e régua, no quartel e na cadeia tinha uma palmatória
dessa também. Apanhei muito na escola por que não sabia ler ou não sabia
responder a sabatina, eu levei uns 5 anos na escola, sair no terceiro ano, só
entrou na minha cabeça a arte de carpinteiro, quando amanhecia o dia já ficava
com medo, pois se não soubesse a lição apanhava dos colegas e da professora,
quando eu vir entender o que era escola meu pai me tirou para colocar os irmãos
(REZENDE, Valdomiro de Souza,2022)”. – P. 20.
Capítulo – Atividades
profissionais
Aprendi
a fazer as casas de farinha, eu desconheço quem faz melhor do que eu, por que
eu faço a prensa e o parafuso. Tem aí para eu lhe mostrar, para não dizer que é
história, tudo da casa de farinha eu sei fazer, a prensa eu fiz uma em 3 dias,
eu e outro carpinteiro, fiz no machado, na enxó e no formão, fiz com um tronco
de jaqueira, a prensa seca a massa da mandioca para 2 sacos de farinha. Essa
foi feita por mim. Fiz também uma em Aldeia para o parente de Juca Dias
(REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 23.
Capítulo – Festas e outras diversões
Alertou
ainda, a sua preocupação com a elegância física, usando sempre paletó e gravata
para ir a uma festa, veste costurada naquela época pelo renomado alfaiate
(pessoa que faz roupas para homens), Abílio Aragão, que tinha sua alfaiataria
na Vila de Cabeças, aliás, elegância essa que faz questão de manter até os dias
atuais. (P. 30).
Capítulo – A Vila de Cabeças: o
comércio e outras histórias
O
entrevistado, mencionou que o comércio de maior influência era o de Manoel
Pedro Nunes, localizado onde é hoje a Praça principal da cidade. Esse comércio
foi assaltado duas vezes, levando carne, bacalhau e uma boa quantidade em
dinheiro. Também, destacaram-se como comerciantes: Malaquias Ferreira, Antônio
Cerqueira (Antoninho) e Aloísio Fonseca, este último, “vendida muita carne de
boi, sendo que dia de domingo a carne era mais barata, o povo reunia e comprava
tudo, a chamada carne virada” (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 34.
Capítulo - Povoado de Geolãndia (Jordão): a feira e
outras histórias
A
feira funcionava debaixo de um pé de laranja grande, ali o povo pendurava as
carnes de carneiro e porco para vender, para a carne de boi existiam os
açougues, também as pessoas arriavam os sacos de farinha pelo chão para vender,
a feira era ali em roda da Igreja, era uma feirinha, mais era boa, vinha gente
de tudo quanto é canto, era o lugar que mais vendia feijão na região era o
Jordão. Feira do interior não tem uma igual à do Jordão, na feira o que você
procura acha (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 41.
Capitulo – A Localidade de
Quixabeira
Ainda
salientou, que naquela época, muitas pessoas da localidade de Quixabeira,
trabalhavam em olarias, fabricando tijolos e telhas das comuns, misturando
barro e água e depois colocando no forno para secagem, sendo comercializados em
sua maioria na Vila de Cabeças, transportados em lombos de animais. (P. 45).
Capítulo – A Usina Hidrelétrica de
Bananeiras (Guingle)
Tinha
uma estrada de ferro que ligava São Félix ao Guinle, eram dois trens: um subia
outro descia. Essa estrada sai de São Félix beirando o rio até dentro do
Guinle, esses trens carregavam cimento, tábua, o que precisasse para a
construção e carregavam os trabalhadores que moravam em São Félix. Quando era
de manhã cedo subia cheio de homens para trabalhar, a tarde traziam os que
trabalharam de dia e iam os que trabalhavam a noite, não parava não. Não
cheguei a trabalhar lá não (REZENDE, Valdomiro de Souza, 2022). P. 48.
Fotos: Murílo Moreira.
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