Cigano recusa dotes de casamento para estudar e chega ao doutorado

Ciganos do clã calon, a primeira etnia a chegar ao Brasil, os pais de Jucelho Dantas da Cruz, de 50 anos, eram analfabetos, mas sabiam a importância da educação e gostavam de comprar livros para os 11 filhos. Também os levavam à escola quando fixaram residência em um terreno cedido pela Prefeitura em Ibirapitanga, no sul da Bahia, hoje conhecido como bairro dos ciganos. Na época, o hábito era uma afronta à comunidade que acusava o casal de ser 'juron', aquele que renega a cultura e tradições no dialeto cigano.
A preocupação do pai, Jacó, em querer dar um futuro diferente aos filhos, fez Jucelho pegar gosto pelos estudos. Alfabetizado pelos irmãos quando a família ainda era nômade e passava no máximo dois anos em cada cidade, Jucelho não sonhava que chegaria tão longe. "Me arranjaram vários casamentos com dotes valiosíssimos (oferecidos pela família da noiva) mas eu sempre negava porque meu sonho era estudar, ter uma profissão. Meu pai não queria que eu tivesse a mesma vida dele, sofrida e cheia de preconceitos."
Aos 15 anos, foi matriculado pela primeira vez na escola. Passou a frequentar as aulas no 2º ano do ensino fundamental em um colégio estadual de Ibirapitanga. Superou a defasagem na idade em relação à série, chegou a pular uma série por conta do bom desempenho, concluiu a educação básica e passou no vestibular para o curso de agronomia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Em 1990, Jucelho concluiu a graduação e diz que foi o primeiro cigano baiano a ter diploma de ensino superior. Seguiu para o mestrado e em 2006 já era doutor em ciências agrárias pela Universidade Estadual Paulista (Unesp). Hoje, Jucelho é professor do curso de graduação e pós em biologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), na Bahia. Fonte: G1 Bahia

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